Estas pequenas figuras foram os heróis da minha infância. Os clicks valeram-me horas de brincadeiras partilhadas com os amigos lá da rua. Estiveram vários anos encaixotados. Hoje são um legado para a minha filha.
Estas pequenas figuras foram os heróis da minha infância. Os clicks valeram-me horas de brincadeiras partilhadas com os amigos lá da rua. Estiveram vários anos encaixotados. Hoje são um legado para a minha filha.
O tempo é pouco para estar no parque e brincar com os amigos, quando se é criança. A pequenada esquece-se de ir lanchar e quando as vozes de mães e avós as chamam para comer, a resposta é invariavelmente: depois não tenho tempo para brincar! Relutantes, os pequenos lá se dirigem a casa, numa correria louca. Engolem de uma vez o leite com chocolate e ei-los de volta ao parque ainda com o pão com manteiga na mão, a ver quem regressou primeiro.
As avós suspiram, as mães resmungam, mas no final do dia, quando eles chegam cansados, transpirados, sujos e caem na cama depois do banho, com um sorriso no rosto, é então altura de serem elas a sorrir aos vê-los felizes
O pai da Maria é pescador e convidou os primos que estão cá de férias a virem um dia à lota, ver o peixe acabadinho de pescar.
Levantaram-se bem cedo, ainda o sol nem se estava a espreguiçar, engoliram o pequeno almoço a correr, e lá foram eles para a lota. Quando chegaram, estava o sol a acordar e a estender os seus primeiros raios sobre o peixe, fazendo parecer que tudo era de prata.
À sua volta, tudo era uma azáfama, entre os pescadores que chegavam com o resultado de uma noite de trabalho e os peixeiros, que queriam comprar o melhor peixe e o mais fresco. Para tudo os primos olhavam espantados, pois nem imaginavam a agitação que decorria por ali todos os dias, quando eles ainda costumavam estar na cama.
O pai da Maria levou-os a bordo do "Deus nos acuda" o pesqueiro onde trabalha e estes ajudaram os pescadores a descarregar o peixe, a arrumar as redes e limpar a embarcação, deixando-a pronta para a próxima noite. Ao final da manhã, cansados e já cheios de fome, devoraram sandes de choco assado com sumol, que o mestre lhes ofereceu.
O pontão é ponto de encontro certo para todos aqueles que têm na pesca a sua paixão. As conversas que se ouvem por ali dizem respeito às façanhas em dias de mar revolto, no maior peixe pescado, nas licenças absurdas que é necessário ter para pescar, no melhor isco a usar, enfim, é todo um vocabulário muito próprio de gente que se sente mais segura no balanço do mar, do que com os pés assentes na terra.
Júlio não é homem de mar. Prefere manter os pés em terra firme. Escuta cada conversa com um sorriso no rosto. É o seu entretém enquanto espera que o isco que escolheu atraia eficazmente a sua presa. Diverte-se com o entusiasmo, com as expressões e com cada pequena mentira aumentada, que ouve no pontão. Enquanto eles falam, ele apanha um, e outro e ainda mais outro peixe. No fim da safra e ao passar pelos tagarelas do pontão, deixa-os em silêncio e boquiabertos com mais uma pescaria repleta de êxito ali mesmo no pontão. Sem dramas, sem aventuras, sem excesso de entusiasmo, mas com muito sucesso.
Os bailaricos de bairro multiplicam-se por estes dias e a sardinha é a rainha das noites quentes de Verão. Os fregueses querem-nas frescas, gordas, com pingo e a crepitar assim que são postas na brasa. Os pescadores afadigam-se na faina para não os deixar descontentes. Para eles, os festejos começam com o nascer da lua e ao acordar do sol, já é tempo de estar quase em casa, com a faina terminada. A sardinhada é feita ali mesmo ao sabor das ondas e estes é que podem dizer que as comem fresquinhas.
Ao chegarem ao porto, as sardinhas ganham asas e voam de mão em mão, até pousarem nas brasas que as transformarão nas rainhas da noite.