Histórias de piratas
O Sr. Zé é de facto um descendente de piratas. O seu tom de pele, a barba hirsuta e o perfume a mar que o acompanham para qualquer lado que vá são testemunho disso mesmo. No dia-a-dia é vê-lo vestido como qualquer um, mas ao fim de semana, ele veste as roupas herdadas do seu tetravô, arrasta a velha arca que resiste estoicamente ao caruncho e desfralda a bandeira preta com o totem do seu antepassado e instala-se na praia a contar velhas histórias de aventuras.
Os seus ouvintes são tantos quantos passeiam no cais, onde outrora caminharam pés descalços trôpegos de tanto saciarem a sede com rum, mas os mais entusiastas são os garotos daqui e dali, que mal o vêem, encarreiram-se atrás dele e sentem-se honrados quando o Sr. Zé os deixa ajudá-lo a montar o cenário.
A inspiração para as histórias que conta, vai buscá-la às linhas retorcidas escritas pelo tetravô no seu diário de aventuras. As folhas do caderno estão amarelecidas, sebosas e cheiram a cachimbo. Tocá-las é ser-se automaticamente trasnportado para a mesa do canto do bar do cais, onde o tetravô do Sr. Zé escrevia as suas memórias.