Estas pequenas figuras foram os heróis da minha infância. Os clicks valeram-me horas de brincadeiras partilhadas com os amigos lá da rua. Estiveram vários anos encaixotados. Hoje são um legado para a minha filha.
Estas pequenas figuras foram os heróis da minha infância. Os clicks valeram-me horas de brincadeiras partilhadas com os amigos lá da rua. Estiveram vários anos encaixotados. Hoje são um legado para a minha filha.
A alcunha do Manel é o "canas". Se perguntarem no cais pelo manel canas, rapidamente obterão resposta acompanhada de um largo sorriso. todos ali o conhecem e sabem melhor que ninguém onde o encontrar: alguns degraus abaixo nas velhas escadas do fundo do cais.
Na verdade, o Manel chama-se Vitor, mas já ninguém se lembra porque lhe chamam assim. O "canas" é bem mais simples de lembrar: desde gaiato que lhe conhecem a paixão pela pesca. viram-no crescer a caminho do cais, coleccionando canas, umas oferecidas, umas compradas e outras tantas trocadas. Pouco tempo as canas lhe paravam nas mãos, sempre em busca da cana perfeita.
Poucos conhecem tão bem os humores das águas do cais e se o Manel não está por ali, é porque nem vale a pena tentar lançar a linha, que é certo que será uma pescaria falhada.
Paixões de verão são assim mesmo, pequenas mais intensas. Inesquecíveis, mas que ao mesmo tempo passam depressa, deixando em nós uma lembrança a saber a algodão doce.
A pequena Marília perdeu-se de amores pelo Juca, mal pisou a areia da praia onde todos os anos passa férias com os primos. E todos os dias inventava uma qualquer situação para chegar à fala com ele:
- Fingiu-se perdida dos pais;
- Trouxera emprestado o cão de um vizinho, afirmando solenemente que o tinha encontrado na praia e que era preciso encontrar os seus donos;
- Lembrara-se de pedir uma carteira velha à tia e levou-a ao polícia dizendo que a tinha encontrado na praia.
E de cada vez que a pequenota lhe aparecia com uma historieta mais mirabolante que a anterior, de olhos brilhantes e incapaz de esconder o sorriso, o Juca percebia que estava ali um amor de verão, daqueles que é preciso tratar com cuidado, para que arrefeçam suavemente com o fim dos dias quentes da estação.
Num dos últimos dias de férias, a Marília aproximou-se dele, desta vez de olhos brilhantes de lágrimas, agradecendo todas as ajudas que ele lhe tida dado naquele verão. Certo de que seria a última vez que se encontrariam, levou-a a cavalo na sua mota a dar uma volta pelas dunas da praia. Ao chegarem, depositou-lhe um beijo muito suave na face, que ela recebeu tão envergonhada, que fugiu a correr sem olhar para trás.
Nessa noite, Marília sonhou que o mundo era feito de algodão e acordou com um sabor adocicado na boca.
Se ela o recebeu de braços abertos quando o irmão chegou lá a casa, bem embrulhadinho e ainda muito enrugado? Nem pensar! Dificultou a vida de todos: recusava qualquer abraço da mãe, evitava ajudar em qualquer tarefa que envolvesse o bebé, escapulia-se a qualquer conversa com o pai e fugia sempre que encontrava o pequeno ser na mesma assoalhada.
Cheios de paciencia, os pais deram tempo ao tempo e o rapaz percebendo quem tinha de conquistar, foi para ela que sorriu pela primeira vez e foi para ela que deu os primeiros passos.
Agora são inseparáveis. O dia dela não está completo sem passar alguns momentos só com ele e para ele. Tem por missão faze-lo sorrir mesmo nos dias mais difíceis.