Estas pequenas figuras foram os heróis da minha infância. Os clicks valeram-me horas de brincadeiras partilhadas com os amigos lá da rua. Estiveram vários anos encaixotados. Hoje são um legado para a minha filha.
Estas pequenas figuras foram os heróis da minha infância. Os clicks valeram-me horas de brincadeiras partilhadas com os amigos lá da rua. Estiveram vários anos encaixotados. Hoje são um legado para a minha filha.
O Carlos e a Maria conhecem-se deste a academia de aviação. Ambos possuem uma paixão intensa pelo céu e nada os deixa mais felizes que flutuar nas nuvens.
Hoje o destino trouxe-os a uma zona remota da América do Sul. Uma zona rural e montanhosa, repleta de plantações de chá. A paisagem não podia ser mais fantástica. A aterragem foi particularmente desafiadora: a pista sem condições, os ventos traiçoeiros e o pequeno aparelho já com incontáveis horas de vôo, exigiram de ambos a maior perícia para chegarem inteiros.
Trazem no porão, guloseimas e brinquedos para as crianças. Medicamentos para abastecer os postos médicos sempre a precisar de reforçar as suas farmácias e alimentos também. E claro, ferramentas e alfaias novas para os trabalhos nas plantações.
A chegada do avião é um acontecimento. Nesse dia ninguém trabalha nas redondezas. Primeiro é preciso ajudar a reparar e limpar a pista. Depois é necessário descarregar o porão, que mais parece o trenó do Pai Natal e finalmente tem que se festejar a chegada de tão preciosos produtos.
O Carlos e a Maria já são conhecidos de todos e são recebidos como heróis. Ficarão na região dois dias e partirão novamente com o porão cheio de chá e com alguns passageiros que precisam de assistência médica mais urgente, ou que precisam de tratar de assuntos na cidade mais próxima.
Sob pseudónimo, o demónio é autor de vários sucessos literários. Romances claro. Histórias de amor bem entendido. Alguns poemas também. Tem várias obras publicadas e uma legião de fãs que desconhecem a sua verdadeira natureza.
Tem, nas jovens a quem suga docemente a pele aveludada do pescoço, as suas musas inspiradoras. Depois de cada aventura retira-se para o seu castelo e aí, sob a luz do luar e passando a língua nos dentes ainda húmidos de sangue inocente escreve até ao amanhecer.
Assim que os raios de luar começam a sucumbir à aurora, retira-se exausto e adormece profundamente como uma criança, com os punhos esborratados da tinta e pingos de cera nas mãos.
Líder carismático de dezenas de cavaleiros, Sir Paul sucumbiu finalmente perante a espada de um salteador, enquanto percorria a cavalo as terras que obtivera como recompensa das suas várias campanhas contra infiéis e na defesa do reino.
Formou inúmeros cavaleiros, mostrando-lhes com o seu exemplo a serem corajosos no campo de batalha e homens sérios e dignos de confiança no seu quotidiano.
Era reconhecido em qualquer canto do reino e os pequenotes fizeram dele o seu herói e até as raparigas mais rebeldes, levadas pelo seu carisma, brincavam com a espada e aprendiam a montar às escondidas.
Dono de um olhar profundo e de um sorriso contagiante, diziam que conseguia domar o corcel mais selvagem com o tom da sua voz e o toque das suas mãos. Nunca foi possível confirmar a veracidade deste rumor, mas a verdade é que quando ele entrava nas cavalariças e fazia soar a sua voz, os animais mais inquietos acalmavam. Era frequente ordenar que colocassem água fresca e reforçassem a dose de ração dos animais.
Pérola Negra, o seu cavalo, reconhecia o seu assobio ao longe e trotava alegremente ao seu encontro quando andava a pastar pelos campos. Nunca tinha cicatrizes de esporas e andava sempre com o pêlo lustroso.
A aldeia em peso prepara-se para se despedir do cavaleiro, depois de terem organizado uma gigantesca caça ao salteador assassino.O seu corpo jaz pendurado com o pescoço partido, na torre da igreja.
Dizem que o próprio Rei virá ao funeral de Sir Paul.
Misteriosamente, todos os dias aparecia na janela do quarto dela uma lindíssima rosa vermelha, mas coberta de espinhos. Tantos espinhos, que era inevitável, não sugirem duas ou três gotas de sangue nos seus dedos ao tocar-lhe.
Desconhecia totalmente o autor de semelhante oferenda e mais ignorava como seria ele capaz de colocar a flor dentro do seu quarto. Mas a estranheza inicial foi dando lugar a um sorriso expectante cada vez que a noite se aproximava.
Um dia, sentiu uma presença no quarto e pressentiu estar a ser observada. Olhou em volta e fixou o olhar nas sombras mais escuras do quarto e percebeu que algo ou alguém estava ali. De uma forma mecânica foi-se aproximando até que umas mãos fortes lhe envolveram a cintura estreita. Sem reacção, deixou-se ir naquele abraço e deixou que ele encostasse o seu corpo ao seu. Aquelas mãos percorreram as suas costas e seguraram docemente o seu rosto.
Ele beijou-lhe os lábios suavemente e sorriu.
- "Quem és tu?" - perguntou ela suspirando.
- "O teu demónio" - respondeu ele.
Ele sorriu mais uma vez mostrando dois caninos pontiagudos, que enterrou suavemente no pescoço dela.