Estas pequenas figuras foram os heróis da minha infância. Os clicks valeram-me horas de brincadeiras partilhadas com os amigos lá da rua. Estiveram vários anos encaixotados. Hoje são um legado para a minha filha.
Estas pequenas figuras foram os heróis da minha infância. Os clicks valeram-me horas de brincadeiras partilhadas com os amigos lá da rua. Estiveram vários anos encaixotados. Hoje são um legado para a minha filha.
Nohell e Niall são gémeos e garimpeiros de 3ª geração! Sim, é verdade há já 3 gerações que a família gera gémeos garimpeiros. É uma paixão por uma vida inigualável, que parece ser genética.
Os gémeos passam a maior parte do ano deambulando entre a pradaria e as montanhas. Não receiam o frio ou a chuva e gabam-se se ser capazes de fazer fogo debaixo do maior temporal. Por norma bastam-se a si próprios e apenas recorrem à cidade no Natal.
Nessa altura são clientes assíduos do sallooon. Enchem a barriga de cerveja e dormem nos braços de uma mulher diferente todas as noites. Renovam guarda-roupa se necessário, cortam cabelos e aparam as barbas que cresceram rebeldes o resto do ano e adquirem alguns utensílios e ferramentas para o garimpo.
É nesta altura que vendem o produto do seu trabalho. Dirigem-se ao banco e é certo e sabido que a diligência com o cofre chega no dia seguinte para seguir recheada para a grande cidade. Sabem ser cordiais com todos. A sua fama junto das mulheres é lendária, mas tornam-se irrascíveis quando se trata do seu garimpo. Por isso nunca foram assaltados. Os poucos que tentaram, desapareceram misteriosamente e aos poucos a sua reputação tornou-se suficiente para desencorajar os tolos mais afoitos.
Terminando essa época, regressam à sua vida solitária que amam acima de tudo: mergulhar os pés descalços no rio até a pele engelhar, adormecer ao som da tagarelice das corujas, conhecer como a palma das mãos o movimento do sol, a ponto de saber com rigor as horas e sorrir profundamente quando os ursos da floresta já os conhecem tão bem que passam pelo acampamento deles sem medo.
O suor escorre-lhe pelas costas. A respiração é ofegante e o coração bate descompassado e acelerado. Os músculos das pernas estão tensos como arame. As mãos agarram firmemente as rédeas. O olhar vigilante procura em cada trilho uma hipótese de fuga.
Atrás dele, os capangas do xerife procuram-no para o levar directamente para a forca. Num assalto mal preparado à dillgência, viu-se obrigado a matar à queima-roupa e traiçoeiramente, o condutor da mesma.
Há três dias que foge. Pouco ou nada tem comido. Resta-lhe saciar a sede em cada riacho que atravessa. A sua montada está no limite das suas forças. Tem as orelhas baixas e as patas tremem ante o esforço que lhe foi exigido. As narinas estão dilatadas e custa-lhe recuperar o fôlego.
Para piorar as coisas, acabaram de entrar em território índio. Já se ouvem os seus batuques e tambores e sente-se o cheiro de carne a assar. Provavelmente acabaram de matar um búfalo e estão a aproveitar cada bocadinho do animal, num ritual ancestral, que mistura sacrifío com agradecimento, aos espíritos que lhes permitem sobreviver.
Se não redobrar a atenção, o mais provável é ser caçado por algum sentinela índio. Entre a forca ou ficar sem o escalpe, os cenários disponíveis são pouco amigáveis...
Samhir é vendedor de antiguidades em Kalba, a cidade mais próxima das famosas ruínas de El-Sharjah, onde segundo contam as lendas, se escondem preciosos tesouros de reis touareg cuja linhagem há muito se perdeu.
Arat é arqueólogo nas horas vagas. Procura uns tais tesouros perdidos, por conta própria, a horas pouco dignas. É um ladrão de tumbas, na verdade. E ganha a vida vendendo e regateando até à exaustão os preços das peças que vai encontrando, sejam elas de muito ou pouco valor. É um negociante aguerrido que todos conhecem.
Às primeiras horas da aurora, num recanto bem escondido do oásis, Samhir e Arat encontram-se para discutir um negócio. As leis mais antigas dos comerciantes mandam que, em vista de um negócio difícil, se beba chá antes de encetar qualquer negociação. Porém, hoje, ninguém trouxe chá e a negociação começa à sombra de armas que ambos os negociantes empunham.
Aos seus pés, sobre a areia que começa a aquecer, um escorpião procura um abrigo mais adequado à temperatura que se fará sentir em breve. A sua passagem é um auspício de que as negociações vão ser duras. E não é para menos. Os artefactos em causa, são valiosos e ambos os negociantes o sabem. O clima vai-se tornando mais tenso, à medida que o sol se ergue no céu.
Após duras negociações, ambos retiram algum proveito do encontro. Samhir conseguiu um preço razoável por um dos artigos que pretendia. No entanto, Arat foi irredutível quanto ao preço final de um pote banhado a ouro, para o qual já tem um valor bastante elevado prometido e ao qual Samhir não conseguiu chegar.
O ritual do chá que deveria ter dado início às negociações, será agora realizado num dos salões do oásis, já num clima mais apaziguado e com as armas embainhadas.