A velha estação
Eu até me envergonha de vir para aqui. Está tudo escangalhado e ninguém toma conta disto.
Venho só para trazer um lanchinho ao meu Manel, que o comboio pára aqui alguns minutos e sempre ele leva o farnel fresco para o resto do dia.
Faço apenas aquilo que a minha mãe fazia pelo meu pai. Maquinista de profissão, o meu pai calcorreou esta linha para trás e para a frente montado nestes cavalos a vapor e a minha mãezinha, fazia questão de lhe trazer a cesta recheada de carinho para que o dia corresse melhor.
Hoje é a minha vez de fazer o mesmo pelo meu marido, que foi aprendiz do meu pai, e é agora ele que segura as rédeas destas máquinas fogosas. Mas isto é uma tristeza. Quando eu era garota, a estação estava reluzente e a plataforma cheia de gente. Hoje em dia, é o que se vê. Está tudo a cair e não fossem os poucos estudantes a pisarem a plataforma, isto já estava para aqui cheio de ervas e nem se via o chão.
Diz-se que vêm para aí umas máquinas novas, mais modernas e que assim talvez as pessoas voltem a andar de comboio. Eu tenho as minhas dúvidas, mas se elas vierem, faço questão de as experimentar. Eu e o meu Manel, que, se Deus quiser, se vai reformar para o mês que vem.