O batedor
Sempre fui o mais pequeno do meu grupo de amigos. A minha mãe dava em doida a tentar que eu engolisse algumas colheres do pouco que havia para comer. A minha avó dizia que eu comia para sobreviver, que comia apenas o estritamente necessário para me manter vivo. Nem mais, nem menos, somente o necessário.
Na nossa pequena aldeia as hipóteses de ter uma carreira eram mínimas, por isso, sempre que as legiões enviavam emissários para angariar soldados, nós os rapazes da aldeia acorríamos na esperança de um futuro melhor.
Eu lá fui com os meus irmãos mais velhos. Eles e vários dos meus amigos lá iam sendo recrutados para este ou aquele posto. Eu fui ficando com os coxos e os doentes, até que um general, que tinha estado o tempo todo sentado a observar tudo, me perguntou se eu sabia caçar, fazer fogueiras e se tinha por hábito dormir ao relento. Ah e claro perguntou-me também se não me importaria de trabalhar sozinho.
Respondi a tudo com sinceridade e ele deu uma gargalhada, colocou-me a mão em cima do ombro e a partir dali tomou para si a tarefa de me transformar num batedor.
Sim, é isso que sou. Vou à frente da legião. Por vezes avanço meio dia, outras vezes mais tempo. Tenho por missão avaliar o inimigo, seja em povoações a conquistar, ou simplesmente a identifcar ladrõezecos de beira de estrada. Não tenho que exercer força bruta. Deixo isso para os verdadeiros soldados, que avançam após ter informado o meu general da situação a enfrentar, número de inimigos e potenciais perigos. Enquanto eles dão conta do recado, eu fico na rectaguarda, a tomar algumas refeições mais reconfortantes e a descansar o corpo em leitos mais suaves.
Para alguém que não sabe usar a espada que carrega, engano bem, não é?