Perdida da floresta
A casa de Karine fica mesmo na orla da velha floresta. É a última casa da aldeia, onde ainda habita alguém e parece que a qualquer momento vai ser engolida pelos ramos dos abetos frondosos ou submersa pela erva que desponta com vigor após cada chuvada primaveril.
Desde pequenita que Karine brinca por ali, embrenhando-se cada vez mais profundamente na floresta à medida que foi crescendo. Karine sabe dizer pelo som que o vento faz nos ramos das grande árvores se virá chuva da grossa, ou apenas alguns salpicos. O canto dos pássaros avisa-a quando chegará o calor ou o frio, consoante a estação do ano. Karine consegue sentir o fim do Inverno pela vibração que sente através dos pés descalços, quando toda a floresta se espreguiça, desperta e retoma a vida para receber a Primavera.
A floresta não tem trilhos definidos. Karine dispensa-os, pois reconhece cada árvore, sabe onde estão os esconderijos dos ursos que ali vivem e as tocas de quase todas as raposas. Sabe a posição de cada rochedo e onde correm os regatos mais bonitos.
A floresta reconhece-a quando Karine por lá passeia cantarolando baixinho, fazendo-lhe cócegas com aqueles pés descalços saltitando por aqui e por ali. A floresta deixa-se assim percorrer e que Karine desvende os seus segredos. Como naquele dia em que a pequena adormeceu exausta num recanto abrigado e acordou com o nariz molhado de um unicórnio na face, avisando-a que em breve trovejaria e que seria melhor ela voltar para casa.